O primeiro procedimento a ser realizado em um dente fraturado é o tratamento de canal, pois o nervo fica exposto e o animal sente dor. Mesmo em casos de fratura antiga, onde o dente já não tenha mais sensibilidade, faz-se necessário o tratamento. Mas, diferente do que é feito em humanos, nos animais esse procedimento é realizado em uma única seção, pois necessita de anestesia geral.
Mas se o animal não apresenta dor, por que tratar o dente?
Mesmo que o animal consiga se alimentar normalmente, o dente fraturado necessita de cuidados. O dente pode ter morrido, mas a abertura existente no local da lesão serve como porta de entrada para as bactérias atingirem a corrente sangüínea e se espalharem por todo o organismo.
É possível recuperar o dente quebrado?
Para restabelecer a forma e a função dos dentes, podemos lançar mão de vários métodos de reconstrução. Existem alguns tipos de prótese, onde as mais utilizadas são as coroas de metal ou cerâmica. Para tanto, o animal deve ser anestesiado para tratar o dente e em seguida fazer um molde da boca para mandar ao protético, o qual irá confeccionar a coroa, que será afixada ao dente em uma segunda seção.
Também é possível refazer a coroa com o uso de postes intra-radiculares e pinos parapulpares, que receberão sucessivas camadas de resina, até recuperar a forma do dente. Mas devemos considerar que a reconstrução da coroa deve ser sempre ligeiramente mais curta que o dente original, para evitar excesso de tensão exercida pelas forças da mastigação.
Atualmente vem se utilizando também a colagem dental. Essa prática requer um banco de dentes para que se possa escolher o mais parecido com o dente natural do animal, em formato e coloração.
O dente reconstruído pode fraturar outra vez?
O fornecimento de ossos longos naturais é responsável por grande parte das fraturas dentais em cães. Um dente reconstruído, por mais forte que seja, também pode fraturar se não forem respeitados certos limites. Mas os cuidados após a reconstrução da coroa não diferem dos cuidados básicos para cães saudáveis. Ao fornecer ossos ao seu cão prefira os artificiais, feitos de couro comestível, ou então vértebras caudais de bovino. E faça visitas regulares ao veterinário para garantir a saúde do seu animal e detectar qualquer tipo de problema o mais cedo possível, facilitando assim seu tratamento.
Lisandra Ferreira Dornelles
Médica Veterinária CRMV-RS 7371
Uso de aparelho ortodôntico em cães e gatos
Os cães e gatos também podem precisar de aparelhos ortodônticos?
Sim, pois ambas espécies apresentam problemas de oclusão errada associadas ou não a deformidades ósseas do crânio e sua relação com a mandíbula. Acredito que estes problemas cresceram muito devido a uma falta de um supervisionamento dos cruzamentos, o que levou com que hoje tenhamos raças que tenham uma oclusão errada, mas que dentro do padrão da raça são considerados normais, um exemplo é o Bulldog.
Os cães e gatos podem usar aparelho, mas será que devem?
Esta já é uma questão delicada pois envolve ética. A princípio todo o animal teria direito médico de ter uma oclusão perfeita ou o mais próximo do normal, pois uma má oclusão pode causar prejuízo a saúde animal (trauma em tecidos moles, dor, desgaste dos dentes, predisposição maior a doenca periodontal, etc) Mas infelizmente, algumas pessoas pensam apenas pelo lado estético e poderiam usar estes animais que fossem corrigidos para exposições e/ou cruzamentos, o que faria com que o problema se perpetuasse. Por isso, muita cautela é requerida na indicação de um tratamento ortodôntico, sobretudo o proprietário deve ser informado de sua responsabilidade.
O aparelho ortodôntico usado em animais é parecido com o usado no homem?
O principio de movimentação é o mesmo, mas os aparelhos são um pouco diferentes. Normalmente usamos aparelhos fixos, que podem ser passivos (plano inclinado) ou ativáveis (expansores). Brackets, fios ortodônticos e elásticos têm uma aplicação limitada devido ao tamanho reduzido dos dentes, como também do comportamento dos animais.
Qual a principal causa dos problemas ortodônticos?
Ainda não existem estudos bem dirigidos para determinar a causa de todos os problemas encontrados em todas as raças. Mas existe um consenso entre os pesquisadores de que a maior parte dos casos esteja relacionada a fatores genéticos e/ou hereditários. Alguns casos estariam relacionados a fatores externos, como traumas e hábitos. Em nosso atendimento no ODONTOVET, temos notado que em muitos casos existe histórico de atraso na exfoliação ou retenção dos dentes decíduos (de leite), o que faz com que os dentes permanentes erupcionem em uma posição desfavorável. Por isso, a recomendação atual é que ao notar um dente permanente erupcionando e o dente de leite estiver firme, a extração do dente de leite seja feita imediatamente.
Em que situações se faz necessário o uso dos aparelhos?
Quando a oclusão afeta a vida e a saúde do paciente. Isto pode acontecer quando um dente fora de posição causa um trauma na gengiva, ou no céu da boca, podendo levar até uma comunicação com o nariz; ou quando um dente oclui sobre outro podendo levar a um desgaste, pulpite, dor. Há casos em que o mau posicionamento dos dentes facilita o acúmulo da placa bacteriana levando a inflamação da gengiva e posterior perda do dente (doenca periodontal). Em outras situações pode haver dificuldade na mastigação e/ou apreensão do alimento. Em cães de trabalho e guarda a aclusão desbalanceada pode levar a predisposição de fraturas nos dentes. O que deve ser lembrado é que a estética deve ficar em segundo plano, a principal preocupação é com a saúde do paciente.
Quanto tempo dura um tratamento ortodôntico no cão?
Este é um dos grandes problemas que temos, pois os tratamentos precisam ser rápidos, pois os aparelhos facilitam o acúmulo de alimento e formação da placa bacteriana, e caso não haja higiene, pode levar a perda do dente. Por outro lado, se movimentarmos um dente com uma força intensa e de forma muito ápida, também corremos o risco de perde-lo. O que tentamos fazer é movimentar o máximo número de dentes em um menor espaço de tempo com um único aparelho. Em média temos conseguido bons resultados em cerca de 3 a 4 meses.
Os cães aceitam bem o uso dos aparelhos?
Antes de decidirmos por um tratamento, é preciso avaliar o temperamento do animal, pois ele pode acordar da anestesia e “arrancar” ou quebrar o aparelho mordendo grades e objetos. Outro detalhe é com relação aos aparelhos que necessitam de ativação. Se o paciente não for dócil, fica difícil ativar, havendo necessidade de anestesias mais frequentes. Em alguns casos, o paciente pode parar de comer ou ficar agressivo devido a dor.
Herbert Corrêa
Médico Veterinário (CRMV SP 7158) – Odontovet
www.odontovet.com